A semente do ódio

•fevereiro 4, 2011 • Deixe um comentário

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua nacionalidade, por suas crenças ou por suas ações. Essas tendências são incutidas nas pessoas pelo meio em que vivem conforme os anos passam. O ódio não deve ser exaltado ou tido como algo enraizado em nossa natureza humana na medida em que traz à tona o que de pior existe nas pessoas: guerras, morticínios, horrores inenarráveis. São tendências perigosas de se cultivar, mesmo quando o preconceito é aparentemente inofensivo. Nunca é.
O amor e o ódio são tidos como sentimentos comuns a todos, embora antagônicos, igualmente intensos e fortes, e por isso, inevitáveis. O ódio é evitável. O ódio tem de ser evitável porque quando não é, quando nós decidimos que é algo aceitável – mais do que isso, um sentimento do qual não podemos escapar, somente nos resignar a sucumbir a ele, caímos em um ciclo vicioso e eterno.

Muitas ideologias e governos têm em sua base uma doutrina de intolerância, violência, opressão e preconceito. Os maiores crimes a humanidade do século XX, que após um século ainda causam horror, foram ditaduras, guerras, perseguições, genocídios e políticas de ódio. Após elas, o que se deveria haver é uma consciência maior da importância da paz e da tolerância, e os perigos que tais tendências mascaram, em todas as suas formas. O que vemos, no entanto, é uma expansão da capacidade humana de odiar e ferir em larga escala disseminada pelo ressurgimento de ideologias perigosas que semeiam mensagens recicladas de violência, limpeza étnica, intolerância religiosa e xenofobia ao redor do mundo.

A História nunca mente. Apesar de sua tendência a ser esquecida com o passar do tempo, a natureza da História permanece cíclica. Por isso é tão importante manter a memória dos incontáveis que morreram em prol da limpeza étnica viva, e que continuam sendo dizimados e perseguidos nos dias atuais.

O Holocausto é tema freqüente de pesquisas e obras, contudo cada vez mais pessoas ignoram que não foi um único homem ou o exército sob seu comando que assassinou
gerações inteiras de inocentes cujo único crime era existir. Foi uma nação, cega por uma sede insaciável de sangue e expurgos dos indivíduos considerados “nocivos” à construção de uma Alemanha inteiramente ariana. Para isso, políticas internas de segregação – estava vedado o direito dos judeus de utilizarem transportes públicos ou freqüentarem instituições de ensino – ações públicas de boicote e vandalismo contra propriedades judaicas – e o uso de extrema violência da população instigado pelo governo – foram feitas e inúmeras sinagogas incendiadas, frequentemente com os judeus ainda dentro delas.

A população participou sim ativamente, se não do extermínio sistemático nas fábricas da morte, ao menos em manter vivo e crescente o ódio irracional que fez com que o nazismo ascendesse. Sem seu apoio, Hitler provavelmente nunca teria passado de um impopular militar nacionalista de idéias radicais.

Como pôde uma única corrente ideológica, aceita por uma minoria nos anos 20, conseguir fazer de um país composto por intelectuais e filósofos transformados em carrascos e assassinos, o pioneiro numa carnificina sem escalas menos de uma década depois? O antissemitismo já era forte na Europa antes de Hitler virar chanceler e tomar o poder. Então o que fez com que o delicado equilíbrio que regia as relações entre os judeus e o resto da Europa – que viria a ser quase totalmente anexada ao território germânico – fosse quebrado?

Sob todos os aspectos, era o período histórico ideal para a ascensão de Hitler e suas idéias. A economia alemã estava em ruínas após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e as obrigações impostas em 1919 pelo Tratado de Versalhes reduzia drasticamente a força bélica da nação, a obrigava a devolver os territórios conquistados e pagar altíssimas indenizações aos países da Tríplice Entente. Para piorar as coisas, a Quebra da Bolsa de Valores de Nova York e a crise econômica mundial de 1929 deixaram o mundo capitalista reduzido a empresas falidas e taxas de desemprego exorbitantes.
O sentimento de revanchismo da população alemã frente às humilhações impostas pelo Tratado de Versalhes era crescente. Hitler estava simplesmente no lugar certo, na hora certa, com o discurso certo. E, cada vez mais, a atenção pública se voltava para a mensagem que ele trazia, mensagem que somada ao seu talento extraordinário como orador fazia com que tivesse em suas mãos o instrumento mais poderoso que poderia ter: as massas.

Era um caminho sem volta.

Em seus discursos, Hitler falava de expandir territórios, lutar para reaver os que os pertenciam, conquistar, prosperar mundialmente como força econômica e militar, dar as crianças um futuro e uma nação da qual se orgulhar. Falava de um povo que, infiltrado na Alemanha, destruía sua economia, minava seu sucesso e prosperava a custa de suas riquezas.

Era uma tática diabolicamente simples.

Hitler resumiu todos os problemas pelos quais a nação passava num único alvo, um único bode expiatório: os judeus, aqueles que há muito eram vistos com desconfiança e antipatia pela comunidade européia. Um povo perverso, o lixo racial que disseminava doenças e planejava secretamente sua destruição. Eram eles os culpados. Eles eram a razão de seus pais estarem desempregados e seus filhos na miséria. Sem eles a Alemanha ressurgiria como uma força imbatível e seria poderosa novamente.
As idéias nazistas sobre superioridade e purificação racial eram tão deturpadas quanto a absurda “ciência” nas quais se baseavam, mas a Alemanha estava eufórica demais depois de um longo período sufocada por crises sucessivas, cega para o que o futuro reservava, mesmo que à principio fosse tão óbvio.

Quão empolgante e embriagador devia ser para uma nação em ruínas ser chamada de “raça superior”, e classificada como indivíduos privilegiados pela evolução, psicológicos físicos e biologicamente superiores. E assim Hitler – tido como um austríaco megalomaníaco, mas inofensivo pelo Ocidente – uniu um povo que não tinha nada pelo ódio.

A extensão dos danos causados é amplamente conhecida e temida por nós. Tal conhecimento nos faz supor que, sabendo o quanto ideologias de ódio são, em sua essência, destrutivas a toda moral humana, bem como à existência de sociedades democráticas e igualitárias, a visão de grupos neonazistas, xenófobos e racistas, e sua imediata ascensão faria com que recuássemos de horror. A História nunca mente. Apesar de sua tendência a ser esquecida, a natureza da História é cíclica. Podemos não nos preocupar e não dar muita atenção a grupos de indivíduos violentos que só conseguem aterrorizar suas áreas de influências, também minúsculas se comparadas ao todo. Mas não nos enganemos, eles não são inofensivos. Podemos subestimá-los hoje com a impressão de que eles são controláveis, até não serem mais.

•fevereiro 4, 2011 • Deixe um comentário

“Não deixe que sua chama se apague com a indiferença, nos pântanos desesperançosos do ainda não, do agora não. Não permita que o herói na sua alma padeça frustrado e solitário com a vida que ele merecia, mas nunca foi capaz de alcançar.”

O primeiro dia do resto das nossas vidas

•fevereiro 3, 2011 • Deixe um comentário

O ano começa hoje. Agora, nesse exato momento meu ano começa. Minhas aulas ainda não começaram, assim como minha rotina de mais um ano ainda não foi retomada. Neste ano não haverá rotina alguma a ser retomada. Eu nunca mais verei nenhum daqueles rostos familiares em minha vida diária. Não haverá aquela sensação ininterrupta de pertencer a um lugar, como se ali fosse um segundo lar – ou seria o primeiro? – embora eu saiba que lá foi muito mais que um lar pra mim. Foi onde eu cresci, vivi e amadureci. Eu entrei como uma criança deslocada e ansiosa, e saí como essa garota que, sob muitos aspectos, deixou aquela criança para trás, abandonada em algum recôndito do passado pelas alterações sofridas ao longo dos anos – embora eu ainda veja seu reflexo, satisfeita com o que vê no outro lado do espelho.

É surpreendente fácil andar por essa casa de ecos e ausências, vê-la ser encaixotada e esvaziada por uma mudança adiada ano após ano – uma mudança enfim consolidada. Foi minha casa por mais tempo do que eu pude lembrar, e ainda assim é estranho como não me pertuba deixá-la para trás. Uma vez eu li que o lar de alguém é onde seu coração está. Meu coração nunca pertenceu a essa casa, a essas paredes vazias. Tampouco hoje ele está no colégio que pertence ao meu passado, a uma vida que acaba hoje. Eu não sei aonde meu coração vai me levar. Eu não sei se haverá paz e plenitude para ele num futuro próximo. Eu não sei sei qual será meu novo lar. Mas hoje a mudança por fim não me assusta mais. Eu a desejo ardentemente, como ardentemente um dia eu desejei nunca ir embora. Hoje eu desejo ir e deixar tudo o que vivi antes dela para trás.

Sem arrependimentos, sem culpas, sem desculpas.

Essa coisa chamada preconceito

•fevereiro 2, 2011 • Deixe um comentário

Gay vs Negro

Enfim, simplesmente genial. Ela poderia utilizar mil e um argumentos diferentes do porquê a homofobia é algo estúpido, irracional e absurdo. Ao invés disso, ela faz uma pequena inversão e constrói um ótimo show de humor com uma temática que não é nova nas comédias, mas de um jeito que não é insultante e preconceituoso nas entrelinhas, como geralmente são. Muito pelo contrário, o que é ridicularizado e digno de riso é o discurso homofóbico.

Foi lamentavelmente cômico assistir a um discurso de um deputado na TV senado em que ele alertava ao povo, aos pais brasileiros e as autoridades em geral sobre um conjunto de pequenos vídeos educativos que iriam circular pelas escolas públicas brasileiras numa tentativa do MEC de conscientizar as crianças sobre o que é ser gay, lésbica, transsexual e transgênero (eu só entendi o que é alguém “transgênero” a pouquíssimo tempo atrás), e de combater a homofobia em suas raízes. O deputado estava mais que horrorizado e afirmava que era uma tentativa da comunidade GLBT de perverter e promiscuir as crianças, transformando seu “modo de vida” em um modelo “aceitável”. E transformou o que seria um projeto de educação esclarecedor e necessário a um país em que diariamente pessoas são agredidas e mortas por homofobia, numa piada nacional, uma lamentável constatação da capacidade das pessoas de regredir enquanto seres humanos.

A loucura está nos olhos de quem vê

•fevereiro 2, 2011 • Deixe um comentário

A palavra latina norma, que está na origem do termo normal, significa “esquadro”. A palavra normalis quer dizer “aquilo que não se inclina nem para direita nem para esquerda”, ou seja, que é “perpendicular”, que “se mantém num justo meio termo”. Portantom “uma norma, uma regra, é aquilo que serve para retificar, pôr de pé, endireitar”. Nesse sentido, normalizar é impor uma exigência a uma existência que possui um caráter diversificado, irregular. Essa diversidade vai se apresentar em relação à exigência como um elemento de resistência e indeterminação. Porém, é preciso notar que uma norma, uma regra, se propõe como um modo possível de eliminar uma diferença. E ao se propor desse modo a própria norma cria a possibilidade de sua negação lógica. (…)

(…) Em suma: se o normal se define mediante a execução de um projeto normativo, este, ao mesmo tempo que engendra o anormal (o anormal é condicionado pelo normal), é acionado por ele (o anormal é condição do normal). Em outras palavras, o anormal é uma virtualidade inscrita no próprio processo de constituição do normal e não um fato ou uma entidade autômona que definiríamos pela identificação de im conjunto de propriedades delimitadas e imutáveis. O anormal é uma relação: ele só existe na e pela relação com o normal. Normal e anormal são, portanto, termos inseparáveis. E é por isso que é tão difícil definir a loucura em si mesma. (…)

(…) A classificação individual de um indivíduo se faz a partir da observação de vários níveis de sua expressão pessoal. É suposto que, se o indivíduo for louco, o seu modo de ser manifestará (através de sintomas) a sua loucura. Porém, como saber que X é um sintoma de doença mental? (…) Isso torna evidente que o julgamento “X é um sintoma de doença mental” pressupõe implicitamente que as idéias, conceitos ou crenças do paciente são comparadas com as do observador e da sociedade em que ambos vivem. (…) Em suma, dessa perspectiva relativista, cada sociedade forma da doença um perfil que se desenha através do conjunto das possibilidades humanas enfatizadas ou reprimidas culturalmente. (…) Dizer que há modelos sociais de loucura significa que o indivíduo não enlouquece segundo seus próprios desígnos, mas segundo um quadro previsto pela cultura da qual é membro. (…) A doença só tem realidade e valor de doença no interior de uma sociedade que a reconhece como tal.

João Frayze-Pereira

Os fins não justificam os meios

•fevereiro 1, 2011 • Deixe um comentário

Imagine que você mesmo está construindo o edifício do destino humano com o objetivo de no final tornar as pessoas felizes, dar finalmente a elas paz e descanso, mas para isso você precisa inevitável e inescapavelmente torturar apenas uma pequena criatura, aquela mesma criança que estava batendo em seu peito com seu pequeno punho, e erguer seu edifício sobre as fundações de suas lágrimas injustificáveis – você concordaria em ser o arquiteto em tais condições? Diga-me a verdade.

Maquiavel estava errado – os fins não justificam os meios. O caminho percorrido para alcançarmos algo é tão importante quanto chegar a seu destino final. É ele que faz o fim valer a pena e não ser apenas mais uma bifurcação num labirinto de caminhos comuns. É o que define nosso caráter, muito mais do que nossas conquistas, embora comumente julguemos uns aos outros baseados nos sucessos e aquisições obtidos. Eles são somente uma fachada que por si só não diz nada sobre o verdadeiro caráter de uma pessoa. Construir um edifício sobre as fundações das lágrimas de inocentes, lançando mão de subterfúgios, não é nada além de construir algo essencialmente repulsivo, independente do quão opulento e necessário ele seja.

Essa é a razão do porque eu sou terminantemente contra combater a violência com mais violência. Não importa qual é o objetivo final, o caminho percorrido para alcançá-lo deve falar por si mesmo. Por razões similares eu sou contra a pena de morte, mesmo quando os crimes cometidos são tão chocantes que é impossível não sentir ímpetos de vingança e punição à altura. Mas como decidir qual é o valor de uma vida? E quem decide qual crime é um crime suficientemente grande para tirá-la? E se o criminoso é fruto da sociedade que vive, como a sociedade pode julgá-lo como único culpado de um crime que pode ser apenas o resultado de uma sucessão de eventos impostos a indivíduos condicionados pelo meio em que vivem, pela sociedade das quais são frutos?

Frutos podres que caem no chão e se afastam da árvore-mãe não podem ser usados como alimentos, tornam-se repulsivos e descartáveis, apesar da natureza em comum com os frutos padrões, e permanecem à margem, inutilizados pela mesma natureza que os criou.

É o mesmo problema que o sistema penitenciário brasileiro enfrenta. Ao invés de servir como lugar de correção dos criminosos com o fim lógico de reinserí-los na sociedade, o contrário acontece. A prisão revela-se local de marginalização, em que criam-se indivíduos ainda mais perigosos. A solução não é nos livrarmos deles ou lotar as prisões com seus filhos. Ela se encontra na própria sociedade e em como a governamos, em todas as lacunas que existem na justiça legal e social e em como as alargamos, mascarando-as superficialmente.

A situação exige consciência. Consciência de que, além das fronteiras legais, econômicas e sociais, somos um todo. E precisamos de ajuda.

Renascer das cinzas

•outubro 20, 2010 • Deixe um comentário

A poucas semanas atrás eu escrevi um post sobre despedidas na tentativa de superar uma. Foi algo bobo que quase não poderia se considerar uma despedida. E eu posteriormente percebi que despedidas reais não podem ser vistas com conformismo ou leve nostalgia. Isso não existe. Quando você ama algo, você quer mantê-lo. Nem sempre de uma maneira possessiva, as vezes fazendo dele apenas uma constante em sua vida. Algo estável, seguro. Esse ano foi possivelmente o ano mais complicado que eu já vivi. Tanta coisa mudou, foram meses de puro desanimo e uma solidão que me era insuportável a princípio. Eu achei que poderia lidar com ela, mas eu não pude. Eu não pude porque, depois da calmaria vem sempre a tempestade e nenhum homem é uma ilha. Eu percebi que eu não podia ser feliz sozinha, eu simplesmente não podia me convencer que eu não ligava pra todo o afeto e companheirismo que existia ao meu redor. Eu não pude voltar atrás, voltar a o que eu era antes, as coisas como eram antes porque aqueles laços estavam partidos. Então eu lentamente, com esforço, depois de muita tensão e turbulência, eu comecei a me integrar. Eu fiz isso sozinha porque ao ser forçada a seguir em frente, alguma coisa em mim mudou. Tudo em mim mudou. Mas aí o ano já estava quase na metade e minhas tentativas de fazer novas amizades não era exatamente bem sucedidas. Foi então que eu conheci eles. Não foi amizade a primeira vista, não foi como se subitamente as coisas se encaixassem e fizessem sentido. Foi algo lento, gradual, ainda que surpreendentemente rápido. No fim desse ano que pareceu eterno, eu finalmente encontrei uma tranquilidade verdadeira. Eu estou feliz, podendo ser novamente eu mesma e tendo ao meu redor pessoas que eu gosto e quero bem. Eu redescobri o significado da amizade, o quanto ela pode ser gratificante e vivificadora. Antes, por eu me sentir tão mau em minha própria pele e em minha própria vida, eu quis mudar. Eu desejei ardentemente essa mudança. Ir pra outra cidade, outro lar, outro colégio e começar do zero. Esquecer aquele ano tempestuoso e confuso e talvez encontrar realização e felicidade em outro lugar. É doloroso perceber que eu mudei e encontrei o que eu queria e não esperava encontrar. Eu encontrei, mas a mudança não é algo que eu possa mudar. Como lidar com ela agora? Eu me sinto frustada porque agora que eu finalmente, depois de tanto tempo, encontrei algo seguro, estável e querido, eu tenha que virar minha vida de cabeça pra baixo de novo. Conscientemente. Ir em direção a um ano mais turbulento e instável do que o anterior e ir feliz porque era o que eu queria, o que meus pais querem, o que eu preciso. Como se despedir de sua vida? Como deixar pra trás uma parte da sua vida, uma parte essencial de você mesmo? Eu não sei como ir embora e deixar memórias e anos e pessoas aqui, sem ter vontade de gritar novamente. E dessa vez não parar mais.

Sobre confissões e despedidas.

•outubro 15, 2010 • Deixe um comentário

Despedir-se nunca é fácil. Ver as coisas irem, obedencendo ao curso normal da vida – as pessoas mudarem, transformarem-se frente ao seus olhos, pessoas que um dia você amou e julgou conhecer. Ver elas partirem, uma parte da sua vida, de você, partir e o mundo continuar, estranhamente, calmamente, como se qualquer dor e qualquer perda não fosse nada frente a verdade maior – e a verdade maior é que mesmo presenciando o fim de algo que foi fonte de alegria, afeto e sorrisos, é necessário encerrar ciclos. Entender que as pessoas partem e deixá-las partir, bem como entender que as coisas mudam e que a mudança é necessária. É inútil tentar lutar contra ela, negá-la e negar-se a seguir em frente. Porque cedo ou tarde nós temos que seguir em frente. E a melhor sensação do mundo é a de continuar e respirar depois que um longo tempo sufocado pela sombra de algo que ficou para trás e apenas nós não podemos ver.

“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais.
Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna
que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável.
Essa terceira perna eu perdi.
E voltei a ser uma pessoa que nunca fui.
Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas.
Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar.
Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta,
era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma,
e sem sequer precisar me procurar.”

Clarice Lispector

•outubro 6, 2010 • Deixe um comentário

“Estamos habituados a receber passivamente tudo do exterior, submetidos as opiniões, contentando-nos com os preconceitos, que são afirmações decretadas antes de terem sido avaliadas, incluindo as mais perigosas e menos fundamentadas. Como estamos sujeitos ao condicionamento e, eventualmente, à intoxicação mental, estamos duplamente presos: primeiro porque somos vítimas, depois porque somos ignorantes a respeito do que nos vitima. Mais escravo ainda que o escravo é o escravo que se crê livre.”

Platão

Sorria.

•outubro 6, 2010 • Deixe um comentário

O ano está na reta final e não foi absolutamente nada do que eu esperava. Eu ainda não sei dizer se eu posso considerar essa mudança brusca de planos e prioridades boa ou ruim. Eu só sei que hoje, no final desse ano cheio de reviravoltas eu sou uma pessoa melhor do que era quando o ano começou. Eu deixei o passado e as pessoas que pertenciam a ele para trás e conheci pessoas e perspectivas novas que me parecem maravilhosas agora. Eu estou feliz. Sinceramente hoje eu me sinto completa e bem comigo mesma e com o mundo de uma forma que eu não me sentia a muito tempo. Eu já não sinto necessidade de fugir e começar uma vida nova. Eu consigo até mesmo pensar que ficar aqui por mais um ano pode ser uma boa idéia afinal.

Uma vez eu li que o tempo não cura nada, que ele só tira o que é incurável do centro das atenções. Mas hoje.. hoje, nesse exato momento, eu sei que o tempo curou todas as feridas que eu tinha e que agora eu posso finalmente ser eu mesma e começar a respirar novamente.